A tributação de serviços médicos sempre gera dúvidas e, muitas vezes, conflitos com a prefeitura. Recentemente, uma decisão histórica do Superior Tribunal de Justiça (STJ) trouxe mais segurança para clínicas formadas por profissionais da saúde que atuam em regime uniprofissional.
No REsp 2.212.226, a 2ª Turma do STJ decidiu que a simples previsão de divisão de lucros no contrato social não transforma uma sociedade simples em empresária, permitindo que ela continue recolhendo o ISS em alíquota fixa, conforme previsto no art. 9º, §§ 1º e 3º do Decreto-Lei 406/68.
Essa decisão traz um impacto direto para clínicas médicas, odontológicas, escritórios de advocacia, contabilidade e outras sociedades uniprofissionais, que muitas vezes são autuadas por prefeituras sob o argumento de que, por prever divisão de lucros, perderiam o benefício fiscal.
O que estava em jogo no processo
O caso analisado pelo STJ envolveu um casal de médicos que formou uma clínica para prestar serviços médicos.
- A sentença original havia garantido o benefício do ISS fixo, considerando tratar-se de sociedade simples, na qual os sócios prestam serviços pessoalmente.
- No entanto, o TJ/PR reformou a decisão, afirmando que a cláusula de divisão de lucros no contrato social transformaria a sociedade em empresária, afastando o regime diferenciado.
O STJ analisou a questão e, por unanimidade, deu razão aos médicos, restabelecendo o direito ao regime de ISS fixo.
O que disse o STJ sobre a divisão de lucros
O ministro Marco Aurélio Bellizze, relator do caso, destacou que a cláusula de distribuição de lucros é natural e obrigatória em qualquer sociedade, seja ela simples ou empresária.
Segundo ele:
“A previsão no contrato social de distribuição de lucros entre os sócios de sociedade uniprofissional não altera a natureza societária, por se tratar de disposição inerente a qualquer sociedade.”
Ou seja, ter cláusula de divisão de lucros não significa que a sociedade tenha caráter empresarial.
A essência do enquadramento está na natureza da atividade, e não na forma de repartir os ganhos.
O que é o ISS fixo e quem pode se beneficiar
O ISS fixo é um regime especial de tributação previsto para sociedades uniprofissionais, no qual o imposto é cobrado por profissional habilitado, com um valor fixo definido em lei municipal, independentemente do faturamento.
Exemplos de profissionais que podem ter direito ao ISS fixo:
- Médicos
- Dentistas
- Advogados
- Contadores
- Psicólogos
- Engenheiros (em alguns casos)
Requisitos para o ISS fixo:
- Prestação de serviços pessoalmente pelos sócios.
- Responsabilidade pessoal pelos serviços prestados.
- Ausência de caráter empresarial, ou seja, sem estrutura típica de empresa, como hierarquia administrativa complexa ou atividade de intermediação.
Base legal: Art. 9º, §§ 1º e 3º, do Decreto-Lei 406/68.
Mas minha empresa pode usar essa estratégia?
Essa é uma das perguntas mais comuns que recebemos de empresários e profissionais liberais.
A resposta depende de uma análise criteriosa do contrato social e da estrutura operacional.
Veja alguns pontos importantes para verificar:
- O contrato social define que os sócios prestam serviços pessoalmente? Se sim, é um indicativo forte de sociedade simples.
- Existe grande número de funcionários que atuam diretamente na atividade-fim? Isso pode caracterizar atividade empresarial, afastando o benefício.
- Os serviços são prestados por meio de intermediação ou subcontratação? Nesses casos, geralmente o ISS fixo não se aplica.
- A empresa mantém estrutura de clínica ou escritório sem dependência direta do trabalho dos sócios? Pode ser interpretado como caráter empresarial.
Exemplo prático: clínica médica com dois sócios
Imagine uma clínica formada por dois médicos sócios, onde ambos atendem diretamente os pacientes.
No contrato social, consta a divisão de lucros ao final do período.
Nesse cenário, segundo o STJ, essa cláusula não transforma a sociedade em empresária.
Portanto, a clínica pode continuar recolhendo ISS fixo, reduzindo consideravelmente a carga tributária.
Agora, se esses médicos contratam outros profissionais, sem supervisão direta, ou se passam a atuar apenas na gestão, a prefeitura pode alegar caráter empresarial, e o benefício pode ser perdido.
Benefícios financeiros do ISS fixo
A economia gerada por esse regime é significativa.
Vamos a um exemplo simplificado:
- Clínica com dois médicos sócios
- ISS fixo anual por profissional: R$ 1.500,00
- Total anual: R$ 3.000,00
Agora, imagine essa mesma clínica faturando R$ 600.000,00 por ano.
Se o ISS fosse calculado pela alíquota padrão de 5%, o imposto seria de R$ 30.000,00 anuais.
Economia anual: R$ 27.000,00
Economia em 5 anos: R$ 135.000,00
Essa diferença pode ser reinvestida na estrutura, na capacitação ou no crescimento do negócio.
Passo a passo para garantir o ISS fixo
- Revisar o contrato social
- Deve constar que os sócios prestam serviços pessoalmente.
- A cláusula de divisão de lucros pode permanecer, conforme decisão do STJ.
- Verificar a legislação municipal
- Cada cidade define valores e regras específicas para o ISS fixo.
- Organizar a operação
- Evitar contratações que descaracterizem a sociedade simples.
- Manter registros que comprovem a atuação direta dos sócios.
- Acompanhar decisões judiciais
- Precedentes como esse fortalecem a defesa em caso de autuação.
- Contar com assessoria especializada
- Um especialista em planejamento tributário pode identificar riscos e oportunidades.
Por que essa decisão é importante para clínicas e profissionais liberais
As prefeituras têm aumentado a fiscalização sobre sociedades uniprofissionais, muitas vezes autuando contribuintes de forma indevida.
Essa decisão do STJ traz segurança jurídica, reforçando que a cláusula de divisão de lucros não pode ser usada como argumento para retirar o benefício fiscal.
Com isso, clínicas médicas, escritórios de advocacia e outros negócios semelhantes podem economizar tributos de forma legal e segura.
Conclusão
A decisão do STJ no REsp 2.212.226 é uma vitória para os profissionais liberais e um guia para evitar cobranças indevidas de ISS.
Agora está claro que:
- Divisão de lucros é natural e não transforma a sociedade em empresária.
- O que realmente importa é a natureza da atividade e a responsabilidade pessoal dos sócios.
- Manter contratos e operações bem estruturados é fundamental para garantir o ISS fixo e reduzir tributos.
Resumo da tese do STJ:
“A distribuição de lucros entre os sócios prevista no contrato social não altera a natureza de sociedade uniprofissional simples para empresária, em nada influindo no direito ao regime de tributação de alíquota fixa do ISS.”
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